Diversidade na Cultura
O site A Capa, parceiro da Brejeira Malagueta na organização do evento Diversidade na Cultura (que modéstia à parte foi a série de eventos de mais conteúdo da semana da parada de São Paulo) publicou a matéria abaixo.
Debate sobre a pauta gay na grande imprensa encerra “Diversidade na Cultura”
Por Marcelo Hailer em 26 de junho de 2011
Terminou neste sábado (26) o evento “Diversidade na Cultura”, promovido pela Livraria Cultura, Editora Malagueta, site e revista A Capa e Baobá Comunicação. A mesa discutiu a questão da pauta gay na grande imprensa e o quanto a temática LGBT avançou na mídia como um todo.
Participaram do debate as jornalistas Ciça Vallerio (O Estado de São Paulo) e Katia Mello e o blogueiro Duilio Ferronato, do portal R7, com mediação do jornalista e editor-chefe do site e revista A Capa, Paco Llistó.
Duilio Ferronato iniciou o bate-papo contando a sua trajetória ao lado do ativismo. Ferronato disse que desde jovem sempre esteve perto da militância ligada à questão de defesa dos animais e que foi com essa experiência que ele aprendeu que não é a base do “xingamento e da cara feia” que se avança. Para ele, esse tipo de ativismo agressivo “não leva a lugar nenhum” e disse acreditar que é a partir do “esclarecimento” que se vence preconceitos.
A respeito da relação entre os LGBT e a grande imprensa, Duilio Ferronato foi categórico ao dizer que hoje em dia há um significativo avanço e que a pauta da homofobia tende a permanecer nos jornais e TV. Na visão do blogueiro, é justamente por esse crescimento de atenção da mídia às questões LGBT que a homofobia tende a aumentar. Ferronato também pontuou que se chegou em um momento em que a mídia “não pode mais ignorar” as questões gays.
Na sequência, a jornalista Ciça Vallerio relatou algumas experiências que teve com pautas LGBT. Vallerio revelou que uma vez fez uma reportagem sobre noite lésbica e que o jornal não liberou a reportagem, pois a considerou “muito moderna”.
Ciça relatou que sempre pensa as pautas no sentido de romper o esquema papai X mamãe que impera. Mas, mesmo acreditando que há um avanço no espaço dado para o tema LGBT, a jornalista diz que os editores sempre vão dar um tom “mais higienista”. Para ela, “pessoas feias e pobres dificilmente vão para a capa de um jornal”. Ciça disse que a transexual Lea T. só está na capa do suplemento feminino (publicado neste domingo no Estadão) por que há um “glamour” em torno do nome dela.
Por sua vez, Kátia Mello, que recentemente foi uma das autoras da matéria de capa da revista “Época” com uma reportagem sobre a homofobia no Brasil, revelou que na publicação ela não sofre muitos filtros. A jornalista comentou ainda o fato de que o veto ao “Kit Escola Sem Homofobia” causou um grande debate no país e que isso precisa ser visto como algo “positivo”.
Mello também elogiou o trabalho do atual presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis. “O Toni Reis é uma pessoa ótima, a gente liga pra ele e ele tem todos os dados na cabeça… É de pessoas assim que o movimento precisa”, disse.
Mas a jornalista destacou que boa parte das organizações gays precisam trabalhar melhor a questão de comunicação, pois por conta disso muitos jornalistas ficam sem saber o que está acontecendo. Ao fim de sua fala, Kátia Mello voltou a defender que há um grande avanço e deu como exemplo a pesquisa da Fundação Perseu Abramo sobre homofobia, que, de acordo com a jornalista, saiu em 456 veículos de imprensa.
A mesa sobre a pauta gay na grande imprensa encerrou o evento “Diversidade na Cultura”, que durante os dias 23, 24 e 25 realizou debates sobre lésbicas e gays na blogosfera; e a construção de personagens gays e lésbicas na literatura. Uma segunda edição do evento já está sendo planejada pelos organizadores.