Homenagem pelo dia de combate à homofobia
Dia 17 de maio é o dia internacional de combate à homofobia e transfobia, por conta de nesta data, em 1990, o “homossexualismo” ter sido tirado da lista de doenças da Organização Mundial de Saúde.
O dia foi adotado também pelo município de São Paulo e o vereador Florano Pessaro entregou placas em homenagem a diversos artistas e militantes lgbt.
Hanna Korich foi uma das homenageadas por conta do documentário sobre Cassandra Rios.
Eis o discurso que ela proferiu em 22 de maio de 2014, ao receber homenagem na Câmara Municipal de São Paulo
Boa noite a todos e todas, autoridades presentes, especialmente vereador Floriano Pesaro.
Hoje homenageamos o Dia Municipal de Combate à Homofobia, Lesbofobia e Transfobia.
Como editora que sou da Brejeira Malagueta, a única editora lésbica da América Latina, não posso deixar de citar a frase da pioneira e lésbica escritora brasileira, inexplicavelmente esquecida, Cassandra Rios, tema do meu documentário lançado em 2013, que continua sofrendo discriminação por ser mulher e homossexual.
Cassandra, com mais de 60 títulos publicados no Brasil, o primeiro em 1948, no romance de 1979 Eu sou uma lésbica, no último parágrafo escreveu: “Eu sou lésbica. Deve a sociedade rejeitar-me?”
Eu respondo a Cassandra: – Não! A prática da violência homofóbica é inaceitável e deve ser repudiada.
Estou emocionada com esta homenagem neste dia tão importante para nós homossexuais e aproveito para um pequeno desabafo. Realizando eventos literários e culturais, seja através da Editora Brejeira Malagueta, seja agora com a exibição do filme Cassandra Rios – A Safo de Perdizes, em São Paulo e pelo Brasil, observo a falta de recursos e o desprezo com a cultura neste país. Os eventos culturais têm tratamento alegórico e de mera diversão.
Gostaria de alertar que os segmentos artísticos e culturais produzem conhecimento, mas o Brasil insiste na ignorância!
O país está à beira de um infarto, não só econômico, mas cultural!
Nós que produzimos cultura somos tratados como coitadinhos, mendigando por espaços, vagas em agendas, por estrutura para mostrar o nosso trabalho realizado sempre com muita dedicação e dignidade e com poucos recursos. Queremos levar a cultura para o nosso povo e não temos qualquer apoio financeiro, aliás, ele existe, sim, mas para os eleitos, aquela gente que se apresenta nos Credicard Halls ou mesmo para outros que ocuparam cargos em ministérios.
Eu me identifico como homossexual, me imponho e luto, não só pelo respeito e pela dignidade mas pela possibilidade de realizar um trabalho que identifique e represente a nossa gente. Isso me faz viver melhor, mas preciso de apoio e de ajuda!
Obrigada pela homenagem e pela oportunidade de falar!
Finalizo com trechinho do pensador Antonio Cândido, que no seu estudo sobre o direito à literatura ele diz:
“Uma sociedade justa pressupõe o respeito dos direitos humanos, e a fruição da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável!”
Viva a Brejeira Malagueta, viva Cassandra Rios e a diversidade, sempre.