Contra a homofobia
Hanna Korich, uma das fundadoras aqui da Brejeira Malagueta, anda inconformada com os atos homofóbicos que pululam à nossa volta e escreveu este artigo, além de ter participado do protesto na avenida Paulista do dia 21 de novembro.
Não pretendo analisar as origens históricas do horror à homossexualidade e o parentesco deste preconceito com o racismo e o machismo, deixo para especialistas como Daniel Borrillo, autor de Homofobia – História e crítica de um preconceito. Porém, como homossexual assumida que sou, não posso silenciar frente aos recentes atos homofóbicos ocorridos nesta metrópole, dita “civilizada”, onde acontece todos os anos a maior parada gay do mundo!
É impressionante constatar que tem gente que acha que a discriminação não existe. Eu como homossexual tenho certeza que ela existe.
Independentemente da orientação sexual, qualquer pessoa sabe que estão ocorrendo várias espécies de manifestações homofóbicas em São Paulo, basta andar pelas avenidas, ler jornais, acessar a internet, assistir televisão, enfim, se você mora no Brasil e está minimamente ligado, este tipo de manifestação é flagrante e visível.
Algumas notícias publicadas nas últimas semanas nos jornais, são ilustrativas:
“Acusados de agressão na Paulista são soltos”,“Em dois ataques, a polícia diz haver indícios de homofobia.As vítimas relataram que os agressores diziam para elas: Suas bichas, Vocês são namorados”. Folha de S. Paulo de 16/11/2010.
“Jovem atacado na Paulista escapou da morte, diz polícia”, “Universidade em São Paulo quer ter o direito de ser homofóbica” Blog da Folha 11/11/2010.
Recentemente, o encarte Folhateen, de 1º/11/2010, também publicou uma matéria corajosa denunciando a homofobia, com o título “Preconceito fatal”, contando casos de suicídios de jovens homossexuais por causa da discriminação. Num deles o jovem relata que o namorado se matou aos 19 anos pulando do sétimo andar porque “achava que não tinha futuro sendo gay”.
Afirmo, não só como homossexual mas como ser humano, que ser gay não é errado!
Errado é fazer alguém passar fome, explorar, enganar e principalmente ofender e agredir.
O homossexual sofre discriminação? Sim, às vezes em níveis insuportáveis! Tem gente que ainda acha que os homossexuais não são confiáveis e normais. Tem gente que ainda afirma que a homossexualidade é uma doença! Essa idéias e sentimentos são totalmente equivocados e demonstram ignorância. Eu tenho vizinhos que me dão as costas no elevador, não me cumprimentam, são homofóbicos sim.
Tenho orgulho de dizer que sou homossexual, não tenho vergonha e sei me defender.
Esse clima geral gargalhante tipicamente brasileiro parece liberdade, mas engana. Precisamos denunciar e combater diariamente a homofobia, ela esta aí, nas escolas, nas ruas, no trabalho, na política, em todos os lugares. Ela é o medo, a aversão e o ódio irracional. É a causa principal da discriminação e violência física, moral ou simbólica contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
Todos são iguais perante a lei. Por isso, todos podem e devem ser punidos por discriminação homofóbica.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece que as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
Como editora que sou, da única editora lésbica da América Latina, não posso deixar de citar duas frases que me chamaram muita atenção de autoras completamente diferentes no seu tempo e origem, mas tão iguais quanto aos efeitos da discriminação homofóbica por que eram lésbicas: Cassandra Rios e a inglesa Hadcliffe Hall.
Cassandra, com mais de 60 títulos livros publicados no Brasil, o primeiro em 1948, no romance de 1979 Eu sou uma lésbica terminoucom uma pergunta: “Eu sou lésbica. Deve a sociedade rejeitar-me?”
Radclyffe Hall, no romance O poço da solidão, publicado em 1928 e considerado a bíblia do lesbianismo, no final do livro coloca a protagonista, Stefhen Gordon, dirigindo-se a Deus: “Então, levante-se e nos defenda, reconheça-nos, ó Deus, ante o mundo inteiro, dê-nos o direito de existir!”
Eu respondo a Cassandra: Não! A prática da violência homofóbica é inaceitável e deve ser repudiada.
Viva a diversidade!