Malagueta em O Globo
Melina Dalboni, do jornal O Globo, mais uma vez nos entrevistou e deu destaque ao debate promovido pela Editora Malagueta dentro da programação paralela à Flip em 2010. Matéria publicada em 7 de agosto de 2010.
Off Flip 2010 e a emergente literatura gay infanto-juvenil
Ter dois pais ou duas mães. Ser menino mas querer se vestir como menina, e vice-versa. Ser garota e se apaixonar pela professora do colégio. Essas e outras questões de temática homossexual começam a pipocar na literatura infanto-juvenil brasileira. Diante do tímido boom – no sentido apenas de romper barreiras -, as escritoras Georgina Martins, Lúcia Facco e Márcia Leite se reúnem hoje, às 16h, na Pousada Villa del Rey, para discutir o assunto numa mesa da Off Flip – a 2 Conversa Lésbica Literária de Paraty -, organizada pela editora Malagueta.
– Na literatura infantil e juvenil, o papel da menina e do menino são muito tradicionais. E quase não há menção de homossexualidade. Isso promove o preconceito – diz a editora Laura Bacellar, sócia de Hannah Korich na Malagueta.
Grandes editoras, como a Ática e a Cia. das Letrinhas, lançaram recentemente títulos voltados para crianças ou adolescentes que tratam do tema, entre eles “Olívia tem dois papais”, de Márcia Leite, “O menino que brincava de ser”, de Georgina Martins, e “Meus dois pais”, de Walcyr Carrasco. O movimento editorial, porém, ainda é sutil e há resistência entre educadores em adotá-los.
– Os gays e lésbicas não são representados como leitores adolescentes. É impensável se comportar como se meninos e meninas virassem homossexuais apenas depois de adultos. Ainda há dificuldade de entrar no mercado editorial e há um longo caminho para que esses livros sejam adotados pelas escolas – observa a educadora e escritora paulista Márcia Leite, que é heterossexual.
Embora a Malagueta ainda não tenha publicado um título infanto-juvenil com esse tema, Laura destaca a importância do debate, considerando que a homossexualidade nas escolas é tratada apenas na prática, mas não na teoria:
– Afinal, os professores têm entre seus alunos adolescentes gays, lésbicas e transgêneros. E eles têm que lidar com isso no dia a dia.
Nos Estados Unidos, há autores especialistas neste segmento literário, entre eles, David Levithan, autor de “Boy meets boy”. Entre as novidades nas prateleiras americanas em 2010, está o livro “Storck M.I.A”, que conta a história ilustrada do casal Dad e Dad.
– As editoras escolares brasileiras nunca haviam abordado este assunto, por esbarrarem numa intolerância muito grande nas escolas – afirma o editor Fabrício Waltrick, da Ática, que publicou dois livros infanto-juvenis com temática LGBT nos últimos 12 meses.