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Como escritora eu sempre me aventurei pelo campo das narrativas curtas: contos, cartas. Mas resolvi tentar escrever um romance, e quando isso aconteceu, fiquei pensando a respeito do assunto, buscando um tema que me interessasse tanto a ponto de fazer parte de minha vida durante alguns meses.\u00a0
Certo dia, estava lendo o Malleus Maleficarum<\/em>, o martelo das feiticeiras<\/em>, que se trata de um \u201cmanual\u201d para os inquisidores, com t\u00e9cnicas de tortura orientadas. Publicado no ano de 1486, \u00e9 um verdadeiro requinte de sadismo. Na edi\u00e7\u00e3o brasileira, h\u00e1 uma introdu\u00e7\u00e3o hist\u00f3rica escrita por Rose Marie Muraro que fala da \u00e9poca em que a sociedade era matriarcal e de quando os homens descobriram que podiam se utilizar de sua for\u00e7a f\u00edsica para subjugar as mulheres, passando a ter o controle social com todas as vantagens que poderiam obter a partir da\u00ed.<\/p>\n
Fiquei fascinada pelo assunto e passei a ler compulsivamente tudo o que podia sobre a domina\u00e7\u00e3o masculina e sua rela\u00e7\u00e3o com a Inquisi\u00e7\u00e3o. por L\u00facia Facco Como escritora eu sempre me aventurei pelo campo das narrativas curtas: contos, cartas. Mas resolvi tentar escrever um romance, e quando isso aconteceu, fiquei pensando a respeito do assunto, buscando um tema que me interessasse tanto a ponto de fazer parte de minha vida durante alguns meses.\u00a0 Certo dia, estava lendo o […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[5],"tags":[],"builder_content":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/19"}],"collection":[{"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=19"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/19\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=19"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=19"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=19"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}
Esta pr\u00e1tica se desenvolveu largamente na sociedade europ\u00e9ia, especialmente contra as mulheres. Nas aldeias e vilas havia sempre uma mulher com conhecimentos sobre ervas medicinais, partos e que, muitas vezes, \u201cpredizia o futuro\u201d. Geralmente eram mulheres velhas, tanto que a imagem da \u201cbruxa\u201d que chegou at\u00e9 os dias de hoje \u00e9 de uma velha encarquilhada e malvada. As pessoas da \u00e9poca preferiam entregar-se aos cuidados daquelas mulheres que, tradicionalmente, eram respons\u00e1veis pela sa\u00fade de todos e possu\u00edam um conhecimento antigo e seguro, transmitido de gera\u00e7\u00e3o em gera\u00e7\u00e3o. Os rar\u00edssimos m\u00e9dicos (homens) dispon\u00edveis eram preteridos, acontecendo o mesmo com a Igreja, j\u00e1 que essas \u201cs\u00e1bias\u201d eram consultadas sobre quest\u00f5es cotidianas como o clima, a higiene, a fertilidade, a sa\u00fade do gado etc.
Era totalmente inadmiss\u00edvel para as autoridades da \u00e9poca que as mulheres, que ocupavam uma posi\u00e7\u00e3o social subalterna, tivessem tanto status e prest\u00edgio.
A Igreja, que sempre foi mis\u00f3gina, logo se encarregou de criar uma s\u00e9rie de id\u00e9ias que ligavam essas mulheres s\u00e1bias \u00e0 bruxaria, inaugurando uma verdadeira cruzada contra as mulheres, colocando-as em \u201cseus lugares\u201d. Elas passaram a ser vistas com suspeita pela sociedade, constitu\u00edda em maior parte por camponeses ignorantes e supersticiosos, que aceitou essa \u201cca\u00e7a \u00e0s bruxas\u201d prontamente, dando in\u00edcio a uma persegui\u00e7\u00e3o insana conhecida como Santa Inquisi\u00e7\u00e3o.
Este assunto ficou me assombrando por muito tempo, at\u00e9 que resolvi \u201cpurg\u00e1-lo\u201d escrevendo sobre ele. Atrav\u00e9s da literatura pude mudar o destino de algumas dessas mulheres perseguidas, torturadas e assassinadas para distra\u00e7\u00e3o de verdadeiras multid\u00f5es. E mais, inclu\u00ed nesses novos destinos, salvos dessa loucura, um outro tema t\u00e3o execrado pelos intolerantes\/ignorantes de plant\u00e3o: rela\u00e7\u00f5es amorosas entre mulheres. Foi assim que escrevi As guardi\u00e3s da magia<\/em>
Confesso que no in\u00edcio, acostumada que estava a concluir os contos rapidamente, durante os meses em que escrevi o romance apaixonei-me pelas minhas pr\u00f3prias personagens e estabeleci com elas uma rela\u00e7\u00e3o conturbada, na qual me acordavam no meio da noite, exigindo uma continua\u00e7\u00e3o para situa\u00e7\u00f5es deixadas pela metade no processo de escritura.
Se por um lado foi um tanto angustiante, por outro me deleitei com a liberdade de desenvolver bastante a personalidade das personagens e de criar diversas situa\u00e7\u00f5es para elas.
O fim do romance, na verdade, foi a imposi\u00e7\u00e3o que fiz a mim mesma de colocar um ponto final, que acabou se transformando em retic\u00eancias.
As vidas de Sira, Ariadne, Sibila, \u00c9rico, Louren\u00e7o e dos outros continuam. E eles, que me deram umas f\u00e9rias, j\u00e1 est\u00e3o me chamando para recome\u00e7ar a partir daquele ponto, por isso as retic\u00eancias.
Vem um segundo volume por a\u00ed. Nos aguardem.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"