{"id":261,"date":"2012-11-28T19:05:32","date_gmt":"2012-11-28T19:05:32","guid":{"rendered":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/2012\/11\/28\/lucia-facco-uma-lesbica-que-escreve-2\/"},"modified":"2012-11-28T19:05:32","modified_gmt":"2012-11-28T19:05:32","slug":"lucia-facco-uma-lesbica-que-escreve-2","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/lucia-facco-uma-lesbica-que-escreve-2\/","title":{"rendered":"L\u00facia Facco, uma l\u00e9sbica que escreve"},"content":{"rendered":"

\"luciapor Laura Bacellar<\/i><\/p>\n

Conhe\u00e7o a L\u00facia faz j\u00e1 uns bons anos e fico feliz de ter-me tornado amiga dela. Mas n\u00e3o \u00e9 como amiga que falo aqui e sim como editora profissional. Publiquei o primeiro livro dela pelas Edi\u00e7\u00f5es GLS em 2004, As hero\u00ednas saem do arm\u00e1rio<\/i><\/strong><\/a>, que me deixou espantad\u00edssima: foi a primeira disserta\u00e7\u00e3o de mestrado completamente leg\u00edvel que vi na vida! Parece um romance de t\u00e3o interessante, inacredit\u00e1vel.
E \u00e9 isso o que a L\u00facia consegue fazer sempre, unir a seriedade acad\u00eamica de quem l\u00e9 e pesquisa antes de emitir opini\u00f5es, a\u00ed soltar um texto cortante, acess\u00edvel, provocador. Quem n\u00e3o acredita que leia o cap\u00edtulo sobre a \u201cMulher-falo\u201d nessa obra, que a L\u00facia l\u00ea com o maior prazer em locais p\u00fablicos, chocando ouvintes ao soltar a d\u00favida sobre por que o l\u00edquido lubrificante produzido pela vagina da mulher n\u00e3o tem nome popular, como a porra.
A L\u00facia \u00e9 \u00f3tima porque instiga mesmo, convida a pensar. E \u00e9 l\u00e9sbica assumid\u00edssima, com nome e sobrenome. E escreve um monte, \u00e9 a l\u00e9sbica mais publicada da literatura nacional. Confira s\u00f3 o que ela j\u00e1 escreveu e o que ela fala sobre escrita l\u00e9sbica: <\/p>\n

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\u2022 As guardi\u00e3s da magia<\/i><\/a>, publicado pela Editora Malagueta em 2008, um romance ambientado numa antiguidade ficional, apresenta uma hist\u00f3ria de amor entre praticantes de magia.\"capa-guardias\"<\/a>
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Era uma vez um casal diferente<\/i><\/a>, sua tese de doutorado sobre homofobia na literatura infantil, publicada pela Summus em 2009.
\u2022 O conto \u201cDi\u00e1rio\u201d, publicado na colet\u00e2nea de contos Todos os sentidos: contos er\u00f3ticos de mulheres<\/i>, CL Edi\u00e7\u00f5es Autorais, 2003, ganhou do Pr\u00eamio Alejandro Cabassa da Uni\u00e3o Brasileira de Escritores de melhor livro de contos do ano;
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As hero\u00ednas saem do arm\u00e1rio: literatura l\u00e9sbica contempor\u00e2nea<\/i><\/a>, publicado em 2004 pelas Edi\u00e7\u00f5es GLS, ganhou o Pr\u00eamio Arco-\u00cdris de Direitos Humanos na categoria Cultura-Literatura e comenta para que serve essa nossa literatura;
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Lado B: hist\u00f3rias de mulheres<\/i><\/a>,<\/a> publicado em 2006 pelas Edi\u00e7\u00f5es GLS, mostra o lado ficcional de L\u00facia, trazendo hist\u00f3rias em que a homossexualidade nunca \u00e9 questionada ou focada, \u00e9 t\u00e3o natural que \u00e9 ponto de partida;
\u2022 O conto \u201cS\u00e3o Tom\u00e9 das Letras\u201d, publicado na colet\u00e2nea de contos
Elas contam<\/i>,<\/a> publicada em 2006 pela Editora Cora\u00e7\u00f5es e Mentes, tendo sido tamb\u00e9m organizadora deste livro.
\u2022 Organizou ainda o livro
Vict\u00f3ria Alada<\/i><\/a> de Lara Lunna, publicado em 2007 pela Editora Cora\u00e7\u00f5es e Mentes, e tem v\u00e1rios artigos e ensaios publicados em peri\u00f3dicos t\u00e9cnico-cient\u00edficos.<\/p>\n

Eu fiz a ela algumas perguntas sobre escrita e aqui est\u00e3o as respostas.<\/p>\n

O que voc\u00ea acha de literatura l\u00e9sbica?<\/span><\/strong>
Antes de mais nada, eu preciso dizer que a literatura, para mim, \u00e9 pol\u00edtica. N\u00e3o no sentido de induzir as pessoas a pensarem assim ou assado. Pelo contr\u00e1rio. Uma das capacidades que a literatura tem \u00e9 a de fazer com que as pessoas pensem, questionem, vejam as mais diferentes possibilidades de ser, de existir, de se movimentar (socialmente) no mundo. Ou seja, a literatura n\u00e3o destr\u00f3i conceitos, criando outros para por no lugar. Ela forma mentes capazes de julgar e discernir por elas pr\u00f3prias.
A literatura l\u00e9sbica tem a capacidade de permitir a identifica\u00e7\u00e3o para as mulheres l\u00e9sbicas, representando, muitas vezes, uma verdadeira \u201ct\u00e1bua de salva\u00e7\u00e3o\u201d para aquelas que se sentem diferentes, devido aos seus desejos; tem a capacidade, tamb\u00e9m, de tornar vis\u00edveis rela\u00e7\u00f5es afetivas e sexuais que a sociedade teima em querer varrer para baixo do tapete. A partir dessa visibilidade, as leitoras percebem que n\u00e3o existe um \u00fanico e leg\u00edtimo modo de amar. Todas as formas de amor s\u00e3o poss\u00edveis e v\u00e1lidas. Essa nova percep\u00e7\u00e3o se estende a outros planos e leva as leitoras ao questionamento de outras tantas ideias preconceituosas
impingidas a n\u00f3s pela nossa cultura, desde a nossa mais tenra inf\u00e2ncia.<\/p>\n

O que vc acha das autoras que postam em sites?<\/span><\/strong>
Eu acho que a internet possibilitou um crescimento bastante significativo desse tipo de literatura por v\u00e1rios motivos. O primeiro deles \u00e9 o fato de que as autoras s\u00e3o protegidas por um anonimato, caso desejem, e isso faz com que elas se sintam mais livres para escrever.
Essa \u00e9 uma faca de dois gumes. Se, por um lado, os textos ganham visibilidade, por outro lado, elas continuam sendo invis\u00edveis. Essa \u00e9 uma quest\u00e3o bastante complicada, pois elas se isentam da responsabilidade que as autoras devem ter sobre seus escritos. N\u00e3o podemos nos esquecer de que uma coisa \u00e9 escrevermos para n\u00f3s mesmas e para um grupo restrito de parentes e amigos e outra coisa muito diferente \u00e9 escrever para milhares de leitoras. Ao se tornarem p\u00fablicos, os textos ganham independ\u00eancia e podem seguir caminhos indesejados pelas autoras. Quando eles v\u00e3o direto da fonte (a autora, no caso) at\u00e9 a
consumidora (a leitora), sem editora, revisora, etc, que os leiam, pode ser algo complicado.
Eu fa\u00e7o leitura cr\u00edtica e procuro sempre ler com os meus olhos, mas com os olhos do p\u00fablico tamb\u00e9m. Sempre penso: o que o leitor m\u00e9dio poderia achar desse texto?
As autoras de textos de sites n\u00e3o devem se deixar enganar pela privacidade de suas casas e a cumplicidade do monitor e do teclado, e precisam se lembrar de que seus textos ser\u00e3o lidos por um p\u00fablico bastante variado composto por mulheres das mais diferentes faixas et\u00e1rias, de adolescentes a senhoras de mais idade, das mais diferentes cren\u00e7as pol\u00edticas etc.
Em outras palavras, essas autoras n\u00e3o devem se isentar da responsabilidade e escrever como se estivessem escrevendo um di\u00e1rio secreto.<\/p>\n

Qual voc\u00ea acha o melhor caminho para algu\u00e9m come\u00e7ar a escrever?<\/span><\/strong>
Acho que as aspirantes a escritoras devem ser, antes de mais nada, leitoras. Nas d\u00e9cadas de 1980 e 1990, especialmente na \u00faltima, parece que virou moda os escritores arrotarem sua auto-sufici\u00eancia declarando aos quatro ventos que n\u00e3o leem quase nada. Isso foi assunto recorrente em aulas de Teoria Liter\u00e1ria no meu curso de Mestrado.
N\u00e3o \u00e9 imposs\u00edvel que uma pessoa que n\u00e3o leia quase nada consiga escrever, mas, sem sombra de d\u00favida, jamais ser\u00e1 uma escritora sofisticado, de boa literatura. Quando muito, ser\u00e1 uma \u00f3tima contadora de causos. Mas eu acho que a maioria das pessoas, quando pensa em escrever, deseja faz\u00ea-lo da melhor maneira poss\u00edvel. Quem n\u00e3o gostaria de escrever como uma Clarice ou um Caio Fernando?
Em segundo lugar, \u00e9 muito importante que a pessoa pratique a escrita sem medo de \u201cerrar\u201d. N\u00e3o h\u00e1 erro na literatura, porque n\u00e3o h\u00e1 erro na arte.
E, uma observa\u00e7\u00e3o importante: a escrita de um texto exige paci\u00eancia, capricho e dedica\u00e7\u00e3o. Escreva. Depois reescreva. Uma, duas, tr\u00eas vezes. Reescreva tantas vezes quantas forem necess\u00e1rias. Os textos precisam de polimento, inspira\u00e7\u00e3o sim. Intui\u00e7\u00e3o sim. Mas reflex\u00e3o tamb\u00e9m.
Mexa nele, modifique-o sem d\u00f3 nem piedade. E tenha a certeza de que, quando ele estiver pronto, publicado, voc\u00ea achar\u00e1 que n\u00e3o ficou bom e que deveria ter mudado isso ou aquilo, mesmo que todos o achem perfeito.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

por Laura Bacellar Conhe\u00e7o a L\u00facia faz j\u00e1 uns bons anos e fico feliz de ter-me tornado amiga dela. Mas n\u00e3o \u00e9 como amiga que falo aqui e sim como editora profissional. Publiquei o primeiro livro dela pelas Edi\u00e7\u00f5es GLS em 2004, As hero\u00ednas saem do arm\u00e1rio, que me deixou espantad\u00edssima: foi a primeira disserta\u00e7\u00e3o […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[2],"tags":[],"builder_content":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/261"}],"collection":[{"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=261"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/261\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=261"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=261"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=261"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}