{"id":72,"date":"2009-11-25T17:04:17","date_gmt":"2009-11-25T17:04:17","guid":{"rendered":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/2009\/11\/25\/malagueta-no-jornal-estado-de-minas1\/"},"modified":"2009-11-25T17:04:17","modified_gmt":"2009-11-25T17:04:17","slug":"malagueta-no-jornal-estado-de-minas1","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/malagueta-no-jornal-estado-de-minas1\/","title":{"rendered":"Malagueta no jornal Estado de Minas"},"content":{"rendered":"

\"copas_dama\"\"espadas_dama\"O jornal Estado de Minas<\/em> publicou uma mat\u00e9ria de tr\u00eas p\u00e1ginas, incluindo a capa do caderno Bem Viver do domingo, dia 24 de janeiro de 2010, falando do livro de Edith Modesto, Entre mulheres<\/a>, da escritora Karina Dias e da Editora Malagueta.
Incluiu alguns depoimentos interessantes, d\u00ea uma conferida. Ficamos felizes em ver mais um jornal conservador nos tratando com respeito.<\/p>\n

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Amor entre mulheres<\/span><\/h2>\n

Rela\u00e7\u00f5es homossexuais ainda s\u00e3o tabu na sociedade, mas cada vez mais organiza\u00e7\u00f5es n\u00e3o governamentais, editoras e grupos de gays, l\u00e9sbicas e simpatizantes est\u00e3o se mobilizando
<\/em>por <\/span><\/span>D\u00e9a Januzzi<\/p>\n

A conversa \u00e9 entre mulheres, mas a fam\u00edlia toda se envolve, sofre, aceita, rejeita, nega, se desespera ou finge que n\u00e3o \u00e9 com ela. E as mulheres que se apaixonam por mulheres v\u00e3o levando uma vida \u00e0s escondidas. Em p\u00fablico, se portam como boas amigas. N\u00e3o se tocam, n\u00e3o se beijam, n\u00e3o trocam carinhos expl\u00edcitos. Deixam a intimidade para depois, entre quatro paredes. Ou em bares de gays, l\u00e9sbicas e simpatizantes (GLS). O medo de causar mais tristeza e desamparo \u00e0 fam\u00edlia \u00e9 tanto que s\u00f3 se deixam fotografar de costas, sem revelar nomes, profiss\u00e3o e outros detalhes.
Sem consultar a companheira, Rosana (nome fict\u00edcio), de 38 anos, se prontificou a dar entrevista, nome e profiss\u00e3o e a enviar as fotos do casal por e-mail. Assim fez e cumpriu. Um dia depois, telefonou desistindo, dizendo para procurar outras personagens, pois a namorada tinha terminado com ela ao saber da reportagem. Disse que o pai da companheira poderia morrer de infarto se visse as duas no jornal e que a m\u00e3e, muito religiosa, tamb\u00e9m n\u00e3o aguentaria.
As dificuldades das l\u00e9sbicas est\u00e3o no livro Entre mulheres, depoimentos homoafetivos, da professora paulista Edith Modesto, de 72 anos, heterossexual convicta e m\u00e3e de sete filhos \u2013 o ca\u00e7ula, gay, que faz p\u00f3s-doutorado na Calif\u00f3rnia, \u00e9 respons\u00e1vel pelo despertar de Edith para a causa. Ela \u00e9 autora, tamb\u00e9m pelo selo GLS, da Editora Summus, de Vidas em arco-\u00edris \u2013 depoimentos sobre a homossexualidade e M\u00e3e sempre sabe? Mitos e verdades sobre pais e seus filhos homossexuais. Al\u00e9m de fundadora e presidente da ONG Associa\u00e7\u00e3o Brasileira de Pais e M\u00e3es de Homossexuais (GPH), \u00e9 idealizadora do Purpurina \u2013 projeto sociocultural para jovens gays e l\u00e9sbicas, de 13 a 24 anos. Edith comanda tamb\u00e9m diversos projetos de educa\u00e7\u00e3o sobre a diversidade sexual, com palestras para psic\u00f3logos, profissionais da sa\u00fade e militantes.
O livro Entre mulheres \u00e9 uma colet\u00e2nea de relatos de l\u00e9sbicas de diversas idades e ocupa\u00e7\u00f5es que exp\u00f5em, sem pudores, as descobertas, as ang\u00fastias, os sucessos e as derrotas colecionados durante a luta por reconhecimento e respeito. Muitos dos depoimentos s\u00e3o desabafos ou pungentes pedidos de socorro. S\u00e3o hist\u00f3rias de vida que a autora recolheu durante anos, no decorrer de sua atividade como pesquisadora e militante de projetos de apoio a jovens homossexuais e seus pais. “O livro traz depoimentos de mulheres homossexuais, mas poderiam ser negras ou em condi\u00e7\u00f5es socioecon\u00f4micas de risco. Meu interesse \u00e9 a mulher, que muitas vezes sofre duplo, triplo preconceito. \u00c9 uma obra em defesa dela, que \u00e9 cidad\u00e3 e tem direitos que devem ser respeitados” , garante Edith.\u00a0 <\/p>\n

Quebrando as barreiras familiares<\/span><\/h2>\n

L\u00e9sbicas ainda lidam com o preconceito, embora as rela\u00e7\u00f5es estejam mais leves e as mulheres saibam enfrentar melhor os pr\u00e9-julgamentos<\/em><\/span><\/p>\n

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Jenifer e Luiza (nomes fict\u00edcios) moram juntas h\u00e1 um ano e cinco meses e pensam, em breve, em oficializar a rela\u00e7\u00e3o em Portugal<\/p>\n

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De salto alto, unhas impecavelmente pintadas, cabelos lisos, batendo na cintura, as duas chegam para a entrevista depois das 18h, na Regi\u00e3o da Savassi. Extremamente femininas, Luiza, de 28 anos, e Jenifer, de 23 (nomes fict\u00edcios) s\u00e3o l\u00e9sbicas. Moram juntas h\u00e1 um ano e cinco meses e, no dia do encontro, estavam comemorando a aquisi\u00e7\u00e3o de um apartamento. Acabavam de assinar o contrato de compra. Juntas, est\u00e3o decorando o apartamento e j\u00e1 providenciaram inclusive uma moto. Por enquanto, s\u00f3 uma delas pode assinar o contrato, pois no Brasil ainda n\u00e3o foi legalizado o casamento entre homossexuais, com direito a comunh\u00e3o de bens e heran\u00e7a em caso de morte.
Alegres e cheias de vida, elas contam que se conheceram na boate The L, no Bairro Santo Ant\u00f4nio. \u201cFoi igual a um filme o nosso primeiro encontro. Minha m\u00e3o esbarrou na dela sem querer\u201d, conta Luiza. Jenifer, ent\u00e3o, se virou para xing\u00e1-la, porque a boate estava lotada, \u201cmas a partir da\u00ed nos beijamos e nos apaixonamos. Com dois meses de namoro, os pais dela come\u00e7aram a implicar, pois n\u00e3o aceitam de jeito nenhum\u201d.
Enquanto a fam\u00edlia de Luiza v\u00ea tranquilamente o relacionamento da filha l\u00e9sbica, os pais de Jenifer fizeram de tudo para impedir, inclusive, \u201cn\u00e3o deix\u00e1-la telefonar para mim, p\u00f4r de castigo, amea\u00e7ar etc.\u201d, conta Luiza. De comum acordo, as duas resolveram morar juntas e Jenifer passou a fazer parte da fam\u00edlia de Luiza, que foi criada pela m\u00e3e e pelos av\u00f3s, que n\u00e3o s\u00f3 aceitaram as duas como respeitam e sempre cedem o quarto de casal para que elas durmam juntas quando v\u00e3o visit\u00e1-los. \u201cCom a minha fam\u00edlia \u00e9 tudo muito tranquilo, ningu\u00e9m condena\u201d, diz Luiza, que ainda quer ajudar muito Jenifer, para que ela n\u00e3o fique desamparada na vida. \u201cPor enquanto ainda temos planos de sa\u00fade separados, mas espero que mude em breve. Sei que j\u00e1 existem contratos de uni\u00e3o est\u00e1vel feitos em cart\u00f3rios, mas preferimos ir a Portugal em julho para nos casar. No dia 8, o parlamento portugu\u00eas aprovou um projeto que legaliza os casamentos homossexuais. Pela lei, casais homossexuais ter\u00e3o os mesmos direitos que os heterossexuais, inclusive em quest\u00f5es de impostos, heran\u00e7as e habita\u00e7\u00e3o. \u00c9 legal porque o irm\u00e3o de Jenifer mora em Portugal e j\u00e1 est\u00e1 providenciando os pap\u00e9is.\u201d
Luiza nunca precisou contar para a m\u00e3e. \u201cTodo mundo sabe da minha atra\u00e7\u00e3o por mulheres. Mas n\u00e3o \u00e9 preciso verbalizar. Como diz Guimar\u00e3es Rosa, \u2018ser mineiro \u00e9 n\u00e3o tocar no assunto\u2019. Ningu\u00e9m tem a coragem de perguntar explicitamente, mas todos sabem. Minha av\u00f3 de 70 anos foi uma das primeiras a me defender. N\u00e3o aceita que ningu\u00e9m fale mal de mim.\u201d<\/p>\n

SONHOS As duas consideram o relacionamento muito bom. \u201cFazemos as mesmas coisas que um casal normal. Viajamos juntas para a Serra do Cip\u00f3, Lavras Novas, Macacos, Casa Branca, e tamb\u00e9m para as praias do Rio, como B\u00fazios e Cabo Frio. E pretendemos formar uma fam\u00edlia, com filhos e tudo. Se o dinheiro permitir, vai ser por insemina\u00e7\u00e3o artificial. Ado\u00e7\u00e3o seria a \u00faltima escolha\u201d, diz Luiza, que foi criada sem pai e acha que educar filho \u00e9 mais uma quest\u00e3o de amor do que de g\u00eanero. \u201cCada um tem o direito de viver sem preconceitos e prejulgamentos.\u201d
Apesar de ter sa\u00eddo de casa, Jenifer n\u00e3o deixa de visitar a m\u00e3e, mas sempre vai sozinha e sonha que um dia os seus pais v\u00e3o ver, com bons olhos, o relacionamento com Luiza, porque elas est\u00e3o apaixonadas. As duas trabalham o dia inteiro e s\u00f3 se encontram \u00e0 noite. \u201cQuem chega primeiro faz o jantar com os pratos de que a outra gosta. Luiza, por exemplo, \u00e9 f\u00e3 de comida japonesa.\u201d
Na verdade, elas tamb\u00e9m enfrentam dificuldades de se beijar e de se abra\u00e7ar na frente de outras pessoas, mas \u201cn\u00e3o tem jeito de esconder um toque, um olhar, um afeto. As pessoas acabam olhando atravessado, mas eu nem ligo\u201d, diz Luiza, que complementa: \u201cTamb\u00e9m temos as nossas brigas, os ci\u00fames, mas n\u00e3o ficamos de mal por muito tempo. \u00c9 um relacionamento normal entre duas pessoas que se amam\u201d.<\/p>\n

DEPOIMENTOS<\/h3>\n

Sofrimento, solid\u00e3o<\/strong><\/p>\n

\u201cDescobri que sou homossexual aos 14 anos. Tive certeza aos 15. Na verdade, desde pequena me achava diferente de muitas crian\u00e7as e sofria bastante com isso. Minha m\u00e3e descobriu a primeira vez que eu fiquei com uma menina. Me bateu muito, me xingou e disse palavras horr\u00edveis. Mas n\u00e3o parei porque sei do que realmente gosto. Hoje, namoro uma menina de 20 anos. Faz um ano e um m\u00eas. \u00c9 tudo escondido, sofro muito. Como sempre, minha m\u00e3e descobre e me fala muitas coisas que me deixam triste. Minha m\u00e3e diz que preferia que eu morresse. Me amea\u00e7a, n\u00e3o sei mais o que fazer. Amea\u00e7a processar minha namorada. Diz que vai mandar mat\u00e1-la. \u00c9 muito triste. J\u00e1 tentei at\u00e9 o suic\u00eddio duas vezes. S\u00f3 de falar sobre isso j\u00e1 estou chorando. Queria ter uma m\u00e3e que me apoiasse, pois ela n\u00e3o me deixa sair, n\u00e3o confia em mim. Namoro um cara, um namoro de fachada, s\u00f3 para ela pensar que eu parei, porque n\u00e3o aguento mais sofrer com isso. Por favor, me ajudem, estou desesperada.\u201d
\u2022 Francisca, de 16 anos, estudante<\/p>\n

Falta de compet\u00eancia<\/strong><\/p>\n

\u201cEla (minha m\u00e3e) \u00e9 espiritualista, m\u00e3e de santo do candombl\u00e9, por\u00e9m, de uma mentalidade tacanha no que se refere \u00e0 sexualidade. Diz que o envolvimento amoroso entre duas mulheres se d\u00e1 por conta da falta de compet\u00eancia para manter um relacionamento heterossexual. Afirma que a homossexualidade \u00e9 doentia. S\u00f3 enxerga pecado, n\u00e3o v\u00ea que alma n\u00e3o tem sexo, os amores acontecem por afinidades.\u201d
\u2022 Lorena, de 35 anos, psic\u00f3loga<\/p>\n

Paix\u00e3o na inf\u00e2ncia<\/strong><\/p>\n

\u201cNasci homossexual. Minhas primeiras lembran\u00e7as s\u00e3o de quando eu tinha 5 anos e me apaixonei perdidamente pela empregada que a minha m\u00e3e acabara de contratar. Naquela \u00e9poca, \u00e9ramos uma fam\u00edlia de sete filhos. Somar\u00edamos 13 alguns anos mais tarde. Embora trabalhasse sem cessar, minha m\u00e3e n\u00e3o conseguia dar conta de todas as tarefas. E escolheu Olga para ajud\u00e1-la. A nova empregada tinha estatura mediana, tez alva, cabelos muito negros cortados ao estilo Chanel e, apesar da juventude, um semblante s\u00e9rio, quase triste. Eu estava sempre por perto. Ela me acariciava de maneira delicada e, vez por outra, me dava um beijo na bochecha. Era o del\u00edrio.\u201d
\u2022 Maria Teresa, de 59 anos, professora<\/p>\n

Fonte: Trechos do livro Entre mulheres<\/a><\/em>, de Edith Modesto<\/p>\n

Por uma cultura tolerante e feliz<\/span><\/h2>\n

\"lancamento_karina_dia_2\"Quem descobriu um fil\u00e3o na internet foi a escritora Karina Dias, de 30 anos, que assumiu ser l\u00e9sbica aos 18. Carioca, ela se mudou para S\u00e3o Paulo, onde vive com a companheira. Num dos sites que causam um verdadeiro frisson na web, ela reconhece que a maioria de suas leitoras l\u00e9sbicas sente muita dificuldade em lidar com a pr\u00f3pria sexualidade. “V\u00e1rias s\u00f3 conseguem viver o amor delas na internet, lendo os romances e contos que escrevo.”
O sucesso na internet foi tanto que Karina encontrou um novo nicho. A Editora Malagueta acaba de publicar Aquele dia junto ao mar, uma das hist\u00f3rias favoritas da autora de nove romances e um conto de tem\u00e1tica l\u00e9sbica postados na internet, entre os quais De repente \u00e9 amor, Simplesmente irresist\u00edvel, Quando o amor acontece.
S\u00f3cias nos neg\u00f3cios e casadas h\u00e1 seis anos, Laura Bacellar, de 49 anos, e Hanna Karich, de 53 anos, comemoram um ano de exist\u00eancia da Malagueta, em S\u00e3o Paulo, \u201cuma editora de l\u00e9sbicas para l\u00e9sbicas, que oferece obras simp\u00e1ticas e sem preconceito falando de amor e sexo entre mulheres\u201d, explica Laura.
Al\u00e9m das duas, outras mulheres l\u00e9sbicas se re\u00fanem para escolher e publicar livros sobre a tem\u00e1tica homossexual. \u201cQueremos produzir livros que provoquem a imagina\u00e7\u00e3o, sejam divertidos e contribuam para que as l\u00e9sbicas tenham uma vida feliz.\u201d
No site
www.editoramalagueta.com.br<\/a>, elas explicam por que escolheram o nome Malagueta. \u201cAdoramos cenas quentes, da\u00ed o nome da editora, que pretende criar uma cultura l\u00e9sbica brasileira tolerante e feliz.\u201d Se depender do curr\u00edculo de Laura, o empreendimento tem tudo para dar certo. Profissional respeitada no mercado editorial, com passagens pelas principais editoras de S\u00e3o Paulo, como a Summus, que publicou o livro Entre mulheres, de Edith Modesto. Foi Laura quem lan\u00e7ou o selo GLS dentro da editora paulista, o primeiro dedicado \u00e0s minorias sexuais.
Segundo Laura, cultura l\u00e9sbica significa \u201caumentar a visibilidade das homossexuais para que possam ser aceitas cada vez mais pela sociedade e por elas pr\u00f3prias. Diferentemente dos homens gays, somos ensinadas a ficar quietas\u201d. Mas garante que a nova gera\u00e7\u00e3o j\u00e1 come\u00e7a a mudar esse comportamento, tornando-se menos invis\u00edvel. \u201cMesmo assim, tudo o que \u00e9 produzido na nossa cultura \u00e9 para mulheres heterossexuais, apesar de pesquisas do porte do Relat\u00f3rio Kinsey, que revelam que 10% das mulheres s\u00e3o l\u00e9sbicas.\u201d
Laura prefere falar mais nos avan\u00e7os do que nos preconceitos. Ela, por exemplo, j\u00e1 se envolveu no movimento pela abertura da diversidade sexual e foi uma das respons\u00e1veis pelo crescimento da Parada do Orgulho GLBT, em S\u00e3o Paulo , portanto, pode afirmar: \u201cA sociedade brasileira est\u00e1 se abrindo para a diversidade sexual. A maior demonstra\u00e7\u00e3o \u00e9 que a parada paulista se tornou a maior do mundo em n\u00famero de participantes. \u00c9 impressionante como outras paradas ocorrem em todo o Brasil, em lugares distantes, como Crato, no Cear\u00e1. Em 2009, foram 170 paradas do orgulho gay pelo pa\u00eds, uma prova de que a sociedade est\u00e1 mudando e aceitando\u201d.<\/p>\n

INCORPORADA Como sinal de modernidade, hoje, \u201ctodo mundo tem um amigo gay, um casal de l\u00e9sbicas que vai jantar na sua casa. \u00c9 um bom sinal de que a homossexualidade est\u00e1 sendo incorporada. Ningu\u00e9m mais acha que \u00e9 contagiosa\u201d. Os bols\u00f5es de resist\u00eancia, segundo ela, est\u00e3o nas religi\u00f5es fundamentalistas, que \u201cainda t\u00eam muita resist\u00eancia e ficam incentivando a discrimina\u00e7\u00e3o\u201d.
Laura e Hanna escolheram Minas Gerais para a realiza\u00e7\u00e3o de um encontro liter\u00e1rio bastante descontra\u00eddo em 6 de fevereiro. A Livraria Caf\u00e9 com Verso, em Gon\u00e7alves, Minas Gerais, l\u00e1 no alto da Serra da Mantiqueira, vai abrir as portas para uma conversa sobre literatura l\u00e9sbica. Participam Karina Dias, autora de
Aquele dia junto ao mar<\/a>, e as editoras Laura Bacellar e Hanna, que v\u00e3o ler trechos das obras publicadas. \u00c9 um convite para quem quer conhecer e falar sobre esse tema.<\/p>\n

DEPOIMENTOS<\/h3>\n

Defici\u00eancia X homossexualidade<\/strong><\/p>\n

\u201cQuando me pediram que escrevesse um depoimento de como \u00e9 ser mulher l\u00e9sbica com defici\u00eancia, a ideia me pareceu ao mesmo tempo assustadora e incrivelmente atraente. E me pus a relembrar situa\u00e7\u00f5es vividas ou percebidas, veladas ou n\u00e3o, vindas ora de uma viv\u00eancia, ora de outra. Sou portadora de mielomeningocele cong\u00eanita. J\u00e1 a consci\u00eancia da minha condi\u00e7\u00e3o homossexual s\u00f3 se deu mais tarde, entre meus 10 e 12 anos. Mas antes que voc\u00ea pense que vai come\u00e7ar aquele papo de v\u00edtima, \u201ccoitadinha de mim, l\u00e9sbica e cadeirante (amputada), um aviso: essa decididamente n\u00e3o sou eu. Como ativista do movimento l\u00e9sbicas, gays, bissexuais e transg\u00eaneros (LGBT) e administradora, desde 1999, acredito que entre todos os direitos que, em menor ou maior grau, s\u00e3o negados \u00e0s pessoas com defici\u00eancia, o de viver a sexualidade \u00e9 o mais importante. Quando se tem uma defici\u00eancia \u00e9 comum que nos vejam como pessoas quase assexuadas, n\u00e3o erotizadas. Reza o senso comum que n\u00e3o temos desejos nem tes\u00e3o. Um decreto silencioso nos nega a sexualidade.\u201d<\/p>\n

\u2022 Priscila, de 55 anos, administradora<\/p>\n

Mulher, negra e l\u00e9sbica<\/strong><\/p>\n

\u201cA gente n\u00e3o escolhe ser homossexual. Nunca. N\u00e3o existe isso. As pessoas mais importantes na minha fam\u00edlia sabem que sou l\u00e9sbica. S\u00f3 para um dos irm\u00e3os eu n\u00e3o contei. No trabalho, por exemplo, n\u00e3o escancaro. Tem uma amiga que sabe, mas para o resto n\u00e3o vou falar, porque vou me expor e tenho medo de me prejudicar em coisas que levei anos para conquistar profissionalmente. J\u00e1 sofri grandes preconceitos. Sofro preconceito cotidianamente por ser negra, inclusive na minha profiss\u00e3o. Se souberem que sou l\u00e9sbica vai ser demais. Para mim est\u00e1 tranquilo, est\u00e1 muito bem resolvido. N\u00e3o est\u00e1 para as pessoas. Mulher, negra de l\u00e9sbica \u00e9 overdose.\u201d<\/p>\n

\u2022 Roberta, de 44 anos, psic\u00f3loga<\/p>\n

Fonte: Depoimentos do livro Entre mulheres<\/a><\/em>, de Edith Modesto<\/p>\n

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Mais liberdade e menos rejei\u00e7\u00e3o<\/span><\/h2>\n

Homossexuais, aos poucos, ganham espa\u00e7o a partir das paradas gays, que j\u00e1 somam 170 por ano em todo o pa\u00eds<\/span><\/p>\n

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\"edith<\/p>\n

Apesar de ser professora, o tema estava muito longe de mim. Foi assim que um tsunami passou na minha vida ao saber que um dos meus filhos, o ca\u00e7ula, era gay – Edith Modesto, professora e escritora<\/p>\n

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Desde o in\u00edcio da gravidez, a mulher se pergunta se o filho ser\u00e1 homem ou mulher, mas jamais pensa na possibilidade de que poder\u00e1 ser gay. A proposta da autora do livro Entre mulheres \u00e9 que as m\u00e3es encarem a homossexualidade de forma mais natural, para depois n\u00e3o levarem um susto. Professora, pesquisadora e escritora, um dia ela se surpreendeu com a quest\u00e3o da diversidade sexual. \u201cComigo ocorreu numa \u00e9poca em que nem se falava nisso. N\u00e3o havia gays ou l\u00e9sbicas nas novelas nem nos reality shows, nada se falava sobre eles (as) nos jornais e revistas. Homossexualidade era algo que nem passava pela minha cabe\u00e7a. Apesar de ser professora, o tema estava muito longe de mim. Foi assim que um tsunami passou na minha vida ao saber que um dos meus filhos, o ca\u00e7ula, era gay\u201d, segreda Edith.
Na \u00e9poca, ela tamb\u00e9m teve dificuldade de aceitar o filho homossexual e partiu em busca de mais informa\u00e7\u00f5es sobre o assunto, at\u00e9 fundar, h\u00e1 10 anos, um grupo de ajuda aos pais e, h\u00e1 um ano, o Projeto Purpurina, que ela considera como uma unidade de terapia intensiva (UTI), \u201cpois os adolescentes chegam muito fragilizados, com s\u00edndrome de p\u00e2nico, deprimidos, anor\u00e9xicos, tristes e infelizes por causa da rejei\u00e7\u00e3o, principalmente da fam\u00edlia. Muitos chegam, inclusive, falando em morte, um pensamento recorrente entre eles\u201d. N\u00e3o existem estat\u00edsticas, porque, onde h\u00e1 preconceito, tudo \u00e9 escondido, velado e fica muito mais dif\u00edcil fazer um levantamento cient\u00edfico, \u201cmas, dos mais de 1 mil jovens que passaram pelo Projeto Purpurina, cerca de 7% j\u00e1 tentaram suic\u00eddio\u201d, garante a professora.
O trabalho dela, ent\u00e3o, se d\u00e1 em duas frentes. A primeira em encontros com os pais, uma vez por m\u00eas, em sua casa, no Bairro Alto dos Pinheiros, em S\u00e3o Paulo. O Grupo de Pais de Homossexuais (GPH) desenvolve um trabalho de ajuda m\u00fatua, que se d\u00e1 tamb\u00e9m via virtual. O principal objetivo \u00e9 acolher os pais com dificuldades de aceita\u00e7\u00e3o, em qualquer est\u00e1gio do processo em que estiverem. \u201cPor meio da identifica\u00e7\u00e3o e da solidariedade, um ajuda o outro, mesmo que somente levantando d\u00favidas e quest\u00f5es que ser\u00e3o pensadas e discutidas por todos. No grupo de pais, conversamos sobre o que \u00e9 a homossexualidade, ouvimos desabafos, trocamos palavras de apoio, discutimos textos te\u00f3ricos e tiramos d\u00favidas\u201d, explica.
A outra frente \u00e9 oferecer aos adolescentes gays um espa\u00e7o de express\u00e3o. \u201cNo Projeto Purpurina, pratica-se o protagonismo juvenil. Os pr\u00f3prios jovens coordenam o trabalho, embora sejam monitorados por especialistas, quando necess\u00e1rio. No princ\u00edpio, os rapazes eram os que mais procuravam ajuda, mas ultimamente as l\u00e9sbicas tamb\u00e9m apareceram\u201d, o que levou Edith a escrever o livro. \u201cEm primeiro lugar, escolhi escrever porque tamb\u00e9m sou mulher. N\u00e3o importa se heterossexual, bissexual ou homossexual. Sempre fomos e continuamos sendo discriminadas, apesar das apar\u00eancias, que, atualmente, camuflam a verdade.\u201d<\/p>\n

PERDIDOS A realidade \u00e9 que de um lado os pais sofrem, se desesperam e, do outro, os filhos tamb\u00e9m ficam perdidos porque n\u00e3o querem decepcion\u00e1-los. \u201cQuando um filho sai do arm\u00e1rio, a m\u00e3e entra\u201d, ela repete a frase de que mais gosta. \u201cFicam com muita raiva, al\u00e9m de tristes e decepcionadas.\u201d
Edith acha muito dif\u00edcil ficar livre dos preconceitos. \u201cEles grudam mais do que chicletes no cabelo. O preconceito \u00e9 muito mais uma atitude passional do que intelectual, muito mais relacionada aos sentimentos do que ao conhecimento. E lutamos contra v\u00e1rios preconceitos que, muitas vezes, se relacionam e se organizam em n\u00edveis de import\u00e2ncia. Como disse uma das minhas entrevistadas no livro, que, al\u00e9m de mulher, \u00e9 negra e l\u00e9sbica\u201d, diz.<\/p>\n

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O jornal Estado de Minas publicou uma mat\u00e9ria de tr\u00eas p\u00e1ginas, incluindo a capa do caderno Bem Viver do domingo, dia 24 de janeiro de 2010, falando do livro de Edith Modesto, Entre mulheres, da escritora Karina Dias e da Editora Malagueta. Incluiu alguns depoimentos interessantes, d\u00ea uma conferida. Ficamos felizes em ver mais um […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[],"builder_content":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/72"}],"collection":[{"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=72"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/72\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=72"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=72"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=72"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}