{"id":80,"date":"2010-04-06T14:29:05","date_gmt":"2010-04-06T14:29:05","guid":{"rendered":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/2010\/04\/06\/marina-porteclis-fala-sobre-sua-escrita\/"},"modified":"2010-04-06T14:29:05","modified_gmt":"2010-04-06T14:29:05","slug":"marina-porteclis-fala-sobre-sua-escrita","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/editoramalagueta.com.br\/marina-porteclis-fala-sobre-sua-escrita\/","title":{"rendered":"Marina Porteclis fala sobre sua escrita"},"content":{"rendered":"

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A jovem autora de Shangril\u00e1 <\/strong><\/em><\/a>comenta aqui como \u00e9 seu processo de cria\u00e7\u00e3o de personagens e da hist\u00f3ria, permitindo-nos acompanhar os bastidores de sua escrita. Veja que interessante.<\/p>\n

O arcabou\u00e7o e a alma<\/span><\/h3>\n

Costumo dizer que minha escrita divide-se em duas fases bem distintas: uma interna, que independe de qualquer instrumento para ser consumada, e uma externa, que ganha cores e vida atrav\u00e9s de uma tela, onde dedilho as palavras que, por dentro, j\u00e1 ecoavam.<\/p>\n

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Na primeira fase, que se passa dentro de meu imagin\u00e1rio, crio inicialmente os cen\u00e1rios e logo os povoo com as personagens principais, dando-lhes formas, semblantes, olhares, vozes, gestos, nomes e sobrenomes. Uma vez esculpidos os corpos e personalidades, passo alguns dias pensando, vendo, ouvindo m\u00fasica por elas, olhando paisagens, tentando sentir o que sentiriam diante do mundo, da vida, de sua \u00e9poca, de determinadas circunst\u00e2ncias e, sobretudo, em presen\u00e7a umas das outras. E \u00e9 justamente quando consigo estabelecer estas rela\u00e7\u00f5es, que crio o enredo principal. Portanto, antes de concluir a primeira fase, sei exatamente quem s\u00e3o as personagens \u2013 interna e externamente \u2013, como ir\u00e3o se conhecer, o que vai aproxim\u00e1-las e aonde ir\u00e3o chegar. Enfim, como se pintasse um quadro, fa\u00e7o um esbo\u00e7o de tra\u00e7os em meu imagin\u00e1rio, rabiscando um norte para a hist\u00f3ria e deixando entreabertos os caminhos que ir\u00e3o lev\u00e1-las ao final antevisto. \u00c9 o que me compete na primeira fase: dar arcabou\u00e7o \u00e0 hist\u00f3ria.
A segunda fase, por sua vez, come\u00e7a justamente quando j\u00e1 compreendo e domino tanto o universo individual de cada personagem, quanto o universo externo, ou seja, aquele que as circunda em forma de cen\u00e1rio e circunst\u00e2ncias. Nestes termos, quando finalmente me sinto apta, sento-me diante de uma tela \u2013 de computador, \u00e9 claro \u2013 e \u00e9 quando passo a utilizar-me das palavras para dar vida ao enredo que idealizei. Em uma met\u00e1fora, poderia dizer que a segunda fase \u00e9 quando, realmente, fazendo uso de meus pinc\u00e9is \u2013 que s\u00e3o as palavras \u2013 passo a dar cores ao \u201cquadro\u201d que arquitetei. Geralmente, com as tintas prim\u00e1rias, tra\u00e7o, num primeiro par\u00e1grafo, uma cena forte e que tenha me marcado emocionalmente enquanto eu ainda estava na primeira fase. E \u00e9 partindo desta cena que deixo vir \u00e0 tona o restante da hist\u00f3ria. Ela nasce como se j\u00e1 estivesse pronta e parece ter vida pr\u00f3pria. Os caminhos, outrora entreabertos, para a minha surpresa v\u00e3o assumindo cores e contornos definidos e, sem que eu perceba, as etapas do enredo v\u00e3o se abrindo e se fechando diante dos meus olhos. Minhas m\u00e3os, atrav\u00e9s da escrita, t\u00eam como fun\u00e7\u00e3o apenas a de abrirem as cortinas. O norte, aos poucos, se aproxima e, quando menos espero, vem o arremate do quadro numa \u00faltima pincelada. O arcabou\u00e7o, enfim, ganhou alma. O significado e o significante da trama j\u00e1 est\u00e3o consignados, n\u00e3o apenas na \u00faltima, mas em cada p\u00e1gina. \u00c9 quando, finda, eu assino a obra.
E foi assim \u2013 vencendo estas duas etapas \u2013 que escrevi diversos contos e tamb\u00e9m meu primeiro romance, intitulado
Shangril\u00e1<\/em><\/a>.\u00a0 Para ser precisa, posso afirmar que a segunda fase de meu livro \u2013 ou seja, a escrita propriamente dita \u2013 durou cerca de um m\u00eas. J\u00e1 a primeira fase, n\u00e3o sei precisar. Realmente n\u00e3o consigo definir durante quanto tempo lapidei em meu imagin\u00e1rio as personagens, nem em corpo, nem personalidades. Talvez, de algum modo, elas sempre tenham existido, tamanha a for\u00e7a que observei em cada uma delas, quando as libertei em cada p\u00e1gina. O cen\u00e1rio, por sua vez, n\u00e3o fui eu que criei. Ele existe. \u00c9 inteiramente real. Meu trabalho, neste aspecto, foi apenas o de retornar ao palco de minha inf\u00e2ncia, em viagens viabilizadas pela mem\u00f3ria.
Durante estes dias, quase um m\u00eas, chegava em casa a noite e me debru\u00e7ava diante da tela, vencendo, insone, as madrugadas. Buscando nas gavetas de minha mem\u00f3ria, logo me via novamente nos arredores do Engenho Mata Verde \u2013 que n\u00e3o \u00e9 o nome real da propriedade \u2013 e era por ali que eu colocava Mariana, Fab\u00edola, Janu\u00e1ria, Kimber, dona Antonieta, seu Antunes, Dion\u00edsio, Davi, Vicente, Alo\u00edsio, Dinorah e demais personagens, todos j\u00e1 bem definidos interna e externamente. E assim, com a for\u00e7a das palavras, deixava-os trilhar pelos caminhos entreabertos que, aos poucos, iam se definindo, cada um com a cor que lhe competia na peculiar aquarela. Quando dei por mim, tudo j\u00e1 estava ali, nada do que idealizei se perdeu. No final, todos se libertaram, inclusive eu.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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