Opinião da editora
por Laura Bacellar
No dia 4 de julho as autoras Karina Dias, Mariana Cortez, Lúcia Facco e eu fizemos a 1ª. Conversa Lésbica Literária de Paraty durante a OFF FLIP. Foi muito interessante, com participação acalorada de várias moças da platéia e uma discussão que se estendeu por boas duas horas.
Um dos temas levantados, e que aliás sempre surge quando se fala de literatura lésbica, é se uma pessoa com sensibilidade e imaginação tem condições de escrever um texto de temática lésbica – um homem como o Chico Buarque ou uma mulher hetero bem informada – ou se é preciso ser uma lésbica para tanto.
Essa discussão tem defensores fortes de ambos os lados. Há uma nobre tradição que diz que a literatura não é documentária mas arte, e que para fazer arte a pessoa precisa ter sensibilidade e usar sua riqueza interior. Não precisa, assim, ter experimentado na pele tudo o que descreve.
A outra ala desse embate costuma dizer que sim, é verdade que uma escritora não precisa ter vivido tudo o que coloca nas suas histórias (senão não existiria a ficção científica, por exemplo), mas pelo menos a essência ela necessita ter experimentado na sua alma, ou sua literatura soará falsa.
É uma boa discussão. Uma das presentes argumentou que Kafka nunca virou uma barata gigante para escrever A metamorfose. Outra rebateu que ninguém virou uma barata gigante para saber se a descrição de Kafka é boa ou falsa…
Apesar de achar a troca de idéias uma delícia, eu tenho uma posição definida a respeito: literatura lésbica precisa ser escrita por lésbicas.
Como argumento, eu vou apresentar aqui nosso lançamento mais recente, o livro Amores cruzados, de Fátima Mesquita.